9 de set. de 2006

China ensina a ganhar dinheiro

Alberto Tamer E-mail: at@attglobal.net
A China voltou dominar ao noticiário da imprensa mundial, principalmente no Brasil, onde, ao mesmo tempo dos protestos público da indústria têxtil, arrasada pela competição chinesa, o vicepresidente Zeng Qinghong informou que as reservas cambiais em julho totalizaram US$ 954,5 bilhões e os investimentos diretos externos deve passar de US$ 79 bilhões em 2005 para US$ 86 bilhões este ano, criando 20 milhões de empregos só em um ano.

Mas a novidade é outra. E é isso o que interessa acentuar no Brasil: quem investiu na China está ganhando muito, espera ganhar mais e investir mais. É essa a conclusão da Câmara de Comércio da União Européia, divulgada terça-feira, em Pequim. Ela praticamente coincide com levantamento feito em Washington pelo Conselho de Negócios EUA-China, para o qual 81% das empresas americanas instaladas no país estão obtendo lucros.

Qual é o segredo? A resposta é uma verdadeira lição de casa para os nossos administradores em Brasília.

Americanos e europeus estão cautelosos, mas ainda entusiasmados porque estão vendendo grande parte de sua produção no próprio mercado interno chinês. De acordo com o levantamento, cerca de 20 milhões de chineses estão entrando por ano no mercado consumidor!

FANTASMAS? NÃO. EMPREGADOS

De onde apareceram esses consumidores? Aqui, de novo, a lição da China para o Brasil. São empregados das empresas estrangeiras que investiram e continuam investindo e pagam em média um salário de até US$ 200 por mês, quando nas estatais ou as empresas nacionais não recebem mais de US$ 80. É verdade que estes têm moradia, escola, assistência médica grátis e nem pagam pela energia consumida, entre outras caridades. Mesmo assim, porém, preferem perder vantagens e correm para as multinacionais estrangeiras. São candidatos fervorosos a pequenos capitalistas...

SEGREDO QUE SÓ NÓS NÃO VEMOS

Aí está o segredo do milagre chinês: atrair capital externo que paga mais aos seus empregados, transformando-os em consumidores num mercado interno que quase não existia. E haja mercado. É a passagem de um comunismo burro para uma economia de mercado que vem dando certo.

Por essa razão, para a China é essencialmente vital continuar atraindo investimentos externos para se libertar do comunismo mumificado. 'Vamos continuar, neste semestre, ´aperfeiçoando´ o mecanismo cambial, vamos continuar expandindo as nossas reservas e utilizá-las em setores estratégicos para a economia do país',afirma o vice-presidente Zeng Qinghong. Mas tudo isso com calma, muita calma.

INCENTIVOS CONTINUAM

Ele foi muito claro: vamos continuar com a nossa política de forte e amplos incentivos aos investimentos externos. O que significa essa política? E aqui de novo entramos nós, os aprendizes que nunca aprendem nada. Os investidores externos não pagam Imposto de Renda nos dois primeiros anos de operação, têm isenção de imposto para importação de equipamentos não produzidos no país, e agora estímulos para associação com empresas locais, que podem até ser vendidas para estrangeiros, dependendo de sua área.

Enfim, me informa um empresário que tem negócios com a China, 'há muita flexibilidade' e boa vontade do governo para quem quiser investir lá.

NÃO VEM, NÃO TEM

Na questão tributária, a generosidade chinesa não tem limites por uma simples razão que os nossos administradores de Brasília, a não ser o Furlan, não entenderam.

Se o investimento não vier, não haverá imposto a cobrar! Os chineses usam a atração desses benefícios para fazer exatamente o que estão fazendo, criar empregos melhor remunerados e um mercado interno consumidor explosivo.

Eu sei que lá em Brasília vão dizer que não podem reduzir a arrecadação, estão até aumentando impostos para sustentar a máquina oficial, contratar mais funcionários, dar salário-família que atenua a fome mas não cria emprego,para não sei o que mais. Só sei que não é para investir e que o governo não tem política nenhuma para atrair investimento externo.

Ao contrário, afugenta-o. Se o governo gasta mas não investe, sobrecarrega de impostos e burocracia as empresas nacionais, só resta a alternativa de atrair os investidores estrangeiros para criar empregos aqui, como os chineses e os hindus estão fazendo.

Milagre chinês? Não. Eu acho é que alguém andou traduzindo para o mandarim ou o cantonês a teoria do 'óbvio ululante' do Nelson Rodrigues... Se estivesse vivo, certamente ele estaria hoje dando grandes gargalhadas
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