26 de nov. de 2006

Badaladas, igrejas têm filas de 2 anos

Preferidas pelas noivas, Nossa Senhora do Brasil ganha no quesito requinte e Santa Teresinha, em romantismo

Valéria França

Os paulistanos estão enfrentando fila até para casar. E a espera pode ser muito longa. Há paróquias que só têm vagas na agenda de cerimônias para o segundo semestre de 2008. Caso da Nossa Senhora do Brasil, uma das mais badaladas e requintadas da cidade. 'Tem noiva que chega quase chorando, dizendo que faz questão de casar aqui', diz Nadir José Brun, pároco da igreja.

'O fato é que há um grupo de igrejas que se transformou em queridinhas das noivas', diz a organizadora de casamentos Romy Godoy, dona da agência Romy Godoy & Tangrê Woolff. 'São espaços que traduzem o lugar perfeito que elas idealizaram.' Mas São Paulo não sofre com a falta de igrejas. Há 523 paróquias católicas espalhadas pelos 96 distritos da cidade - sem contar as igrejas de outras religiões, como as protestantes e evangélicas.

Fundada em 1940 no Jardim América, a barroca Nossa Senhora do Brasil é uma das mais disputadas. Entre as 10 preferidas, ela está em segundo lugar. Perde apenas para a Igreja Cruz Torta, no alto de Pinheiros, que realiza 450 casamentos por ano (veja ranking, à dir.). Na Nossa Senhora de Fátima, são realizados 360 casamentos por ano. Há três meses, o número de pedidos desesperados e a agenda lotada levaram a paróquia a abrir mais um horário. 'Passamos de cinco para seis casamentos por sábado, das 17 às 22 horas', diz padre Brun.

'Assim mesmo, em 2007, sobraram alguns poucos dias como terças, quartas e quintas-feiras, mas ninguém quer', completa o padre. Durante a semana, a igreja faz apenas um casamento por dia, às 20 horas. Como o trânsito está sempre congestionado no início da noite, as noivas preferem os sábados. Além disso, a Nossa Senhora do Brasil é rígida em relação à pontualidade. Exige que os noivos assinem um contrato e uma das cláusulas prevê, em caso de atraso, a transferência da cerimônia para outro dia.

As noivas aceitam todas as exigências feitas pelas igreja nos detalhes que envolvem a celebração. Sujeitam-se a contratar apenas os profissionais como decorador, fotógrafo, coral e orquestra cadastrados no Guia da Noiva. Cada paróquia tem um. As noivas ainda pagam uma taxa de R$ 1 mil.

Para não postergar a união, o publicitário Eduardo Cargnelutti, de 29 anos, e a fisioterapeuta Paula Tozzi Souza, de 25 anos, casaram na última quinta-feira na Nossa Senhora do Brasil. 'Minha noiva fazia questão de casar aqui', diz Cargnelutti. Conseguiram um recorde para os parâmetros da igreja ao marcar o casamento com apenas oito meses de antecedência. 'É raro, mas, às vezes, alguém desiste e quem dá sorte pega o horário', diz o padre Brun.

As igrejas que figuram no ranking têm características particulares. A Nossa Senhora do Brasil, por exemplo, ganha em requinte e badalação. Já a Santa Teresinha, em Higienópolis, a terceira da lista, com 338 casamentos por ano, diferencia-se pelo romantismo da cerimônia. Na hora da troca das alianças, pétalas de rosas champanhe ou brancas caem do teto do altar.

'Queria um casamento bem tradicional, uma cerimônia para ninguém esquecer', diz a administradora Cristina Barbosa, de 27 anos, que se casou na sexta-feira, com chuva de pétalas de rosa, com o também administrador Felipe Zicchiato, de 30 anos, depois de mais de uma década de namoro.

A Nossa Senhora Perpétuo Socorro, no Jardim Paulistano, é muito procurada pela sua localização. Fica de frente para uma praça bem arborizada e tranqüila, cenário ideal para casamentos diurnos. Além disso, está num trecho do bairro onde os convidados não encontram problemas para estacionar. 'No último ano, o número de casamentos subiu 40%', diz Fátima Célia dos Santos, secretária da paróquia, que controla a agenda de cerimônias.

O aumento da procura ocorreu depois do casamento da atriz global Tânia Khalil com o músico Jair Oliveira, o Jairzinho. 'A Perpétuo Socorro ficou mais em evidência', diz Fátima.

A Igreja Anglicana também está entre as dez mais. Com um culto mais parecido com o da católica romana do que com a protestante, sua filosofia segue uma linha mais liberal. 'Casamos noivos de diferentes credos', diz o vigário Aldo Quintão, que já celebrou uniões entre judeus e cristãos. 'O rabino não faz, mas para a nossa igreja, o importante é o amor dos noivos.' Na Anglicana, a agenda de 2007 já está lotada.

'Casar e ter filhos são os sonhos mais acalentados pelas mulheres', diz a terapeuta de casais Magdalena Ramos, professora da Faculdade de Psicologia da Universidade de São Paulo. O vestido, assim como o local do casamento, são as peças-chave desse sonho. Quando o dia da cerimônia finalmente chega, a noiva procura reproduzir com fidelidade seus desejos.

'Mas os relacionamentos hoje em dia são tão efêmeros que esperar dois anos para conseguir uma data na igreja é um risco', diz Magdalena. 'O namoro pode não durar até lá.'

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